quinta-feira, 29 de setembro de 2011


E quem não queria ter uma vida como em um filme? Desses filmes românticos-água-com-açúcar mesmo. E eu acabo traindo meus próprios ideais. Digo aos quatro cantos que não acredito em amores perfeitos para ver se a vida me prega uma peça e diz: - Olha ai um amor perfeito, de tanto não acreditar eu te mandei um! Seria legal. Legal, não, seria uma maravilha. Todos os problemas amorosos resolvidos em um passe de mágica. No final tudo sempre fica bem e a musiquinha toca para subir os créditos. Tudo dar certo.

Os filmes mentem e fazem a gente querer ter uma vida extremamente feliz. E quem não conseguir que fique mal por isso. Tá, apareça príncipe encantado, já está na hora de entrar em cena. Cadê? Ops, quase ia me esquecendo, aqui você tem que ser real, trazer um passado enorme e aqueles problemas de fazer tempestade em copo d'água. É isso ai, pode chegar, fique a vontade e desarrume a mala. Eu sei, tem poeira, muitos cacos, sonhos machucados, muito tudo. Certo, primeiro a gente desarruma ela e vai ajeitando as coisas na estante como pode.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Estranho isso das lembranças do que não aconteceu ficar insistindo em vir a mente. No sonho te encontrei e você me disse que eu deveria saber que está tudo muito diferente. Mas depois juntou seus olhos aos meus e ficou ali parado como que quisesse me dizer algo a mais. Ficou tudo tão confuso. Aliás, ultimamente meus sonhos não estão me dando um sentido direto, sempre vai ficando subentendido. É, acho que esse é o papel dos sonhos, não ter muita lógica mesmo. Eu te olho, você me olha e a gente fica ali. Você começa a pensar em todas as coisas que achava que seria e nunca foi. Um monte de história que não aconteceu. E eu imagino tantas possibilidades e rotas diferentes que a vida poderia ter levado. Foi uma forma estranha de te encontrar de novo, isso foi.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


Vivemos de uma forma em que todos devem esconder os sentimentos, os outros não podem saber o quanto você está mal no meio de toda essa confusão. As circunstâncias estão de uma forma que nunca estiveram antes. E estou fazendo um esforço enorme para lidar melhor. Eu só quero que tudo fique bem. Na medida em que eu mereça ficar. E eu acredito que eu mereço muito, sem demagogia, acredito mesmo. 

É tão estranho a gente carregar uma vida inteira em um só corpo e andar por ai, sem ninguém desconfiar quantas marcas e dores têm por dentro. De vez em quando a gente recebe uma recompensa, alguns sorrisos bonitos, umas conversas sem sentindo para fazer graça, passeios silenciosos para refletir. Acredito que tem muita coisa boa vindo por ai, é a única explicação que eu encontro nesse momento. E eu fico aqui nesse mundo me achando tão pequenininha diante desse medo das coisas desandarem de vez. Que eu perca tudo, mas não perca a fé de que esse tudo pode melhorar.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011



O lugar estava diferente de como tinha sido um dia. “Eu quase não estou reconhecendo isso aqui, será que eu acho os meus conhecidos?”, dizia minha avó. Depois de muito andar encontramos a casa conhecida. A moradora que não reconhecia ela. Mas ao relembrá-la quem a visitava, via-se o brilho nos olhos de quem nem esperava uma visita, e recebia uma grata surpresa. “Que milagre é esse?”.

Para eu seria apenas mais uma conversa entre velhos conhecidos, mas o abraço na chegada era diferente. Era daquele abraço que aperta, aperta tanto que tira um pouco da tristeza. E tira muito da saudade. O ambiente era uma casa humilde, com pequenos toques de algo atual. Mas era aconchegante. Tinha um ar amigável e querido.


A conversa fluía e iam se atualizando sobre os acontecimentos vividos, sentia-se a emoção em cada palavra. Sentia-se a gratidão pela visita. E sentia-se o quanto esperava por aquele momento. “Eu pensava sempre na senhora”, dizia com um sorriso de quem não tinha vergonha de falar aquilo.


As palavras seguiam, e em um determinado momento algo me puxou mais para aquela conversa. Aquela senhora disse “Minha vida está um romance”. Algo me fez parar para pensar o porquê em meio a tanta tristeza, em meio a lágrimas, entre tantas histórias que não dava certo eu tenha ouvido aquilo. Nunca tinha ouvido alguém definir a vida de forma tão singela e bonita. Não sei se aquela senhora sabia a grandeza do significado daquela frase para mim. Achei aquilo tão lindo! E logo em seguida ela disse “Minha vida está tão sofrida comadre, sua comadre sofre demais”. Romance e sofrimento. Acho que compreendi o que ela estava querendo dizer. O amor é assim, cheio de reviravoltas, cheio de momentos que nos machucam, mas mesmo assim insistimos em querer ver a vida como um romance.

E ela completava dizendo entre uma frase e outra sem sentido (pelo menos para mim que não tinha conhecimento das histórias) que a sua vida era uma parte feliz e outra triste. “O álcool acabou com a minha vida”, ela coloca no álcool a culpa do seu filho não ser quem ela criara para que fosse. O filho lhe trazia desgosto com suas atitudes. E essa era a parte triste.

As expressões da velhice eram evidentes. A pele flácida e machucada pelo tempo demonstrava o quanto ela já teria sofrido. Mesmo eu não sabendo sua idade dava para perceber não ter o tanto que demonstrava, ela era de uma lucidez espantosa.

Na saída outro abraço forte para espantar mais um pouco da tristeza – e quem sabe da solidão também. Então ela me disse “Que moça bonita... Benza de Deus, benza de Deus, benza de Deus, pra não botar olhado”. Eu só sabia retribuir com um sorriso. E outro abraço apertado.

E eu que achava que seria só mais um passeio por um lugar que eu não conhecia.


(Alagoa Grande - PB)