quarta-feira, 25 de junho de 2014

O começo


Aquele era um dia estranho para ela, acordara meio nublada, sem cores, não tinha coragem de sair da cama e enfrentar aquela realidade mais uma vez, ainda mais com toda aquela chuva lá fora. Estava difícil aqueles dias, talvez tivesse realmente bons motivos para isso, talvez fosse só aqueles momentos em que ela adorava fazer de conta que era ruim está ali sozinha, quando na verdade gostava daquilo.

Então, daquele jeito sem graça, decidiu colocar a música no aleatório para ver o que iria aparecer, foi quando começou a tocar uma música que nem sabia como foi parar ali. Falava de sonhos, de acreditar. Era uma música sobre amor.

E ela começou a imaginar todos os motivos que poderiam fazer ela acreditar naquelas afirmações. O saldo era positivo, mas as marcas eram doloridas. Continuava pensando, mas algo interrompeu seu pensamento. A música parou e ela voltara subitamente para a realidade do dia. O telefone estava tocando. Era ele, sim ele... Aquele que há dias a fazia pensar na possibilidade de acreditar mais na beleza dos dias. Ela ensaia se a voz está boa. Uma. Duas. Três vezes. E atende em um tom de quem não se surpreendera com a ligação:

- Oi.
- Oii. Está muito ocupada? Se estiver posso ligar outra hora.
- Não, pode falar. Tenho um tempinho agora.
- Tudo bem contigo?
- Humrum, tudo sim.

Naquele momento ela queria saber sobre o que realmente ele queria conversar. Não tinha nenhum motivo aparente. Acabou ficando calada. Ela não fazia questão de manter diálogos rápidos, gostava das pausas. E como quem tivesse ouvido os pensamentos, ele foi logo respondendo.

- Ah, eu sei que não tem nenhum motivo para te ligar. Só queria saber o que você acha da gente se ver hoje... Eu sei que o dia está feio, mas talvez dê para a gente terminar ele de um jeito melhor. Quem sabe a gente não assiste aquele filme que você tanto quer vê?
- Hum... Será mesmo uma boa ideia?
- Você tem alguma coisa programada?
- Na verdade não, não tenho mais nada para fazer.
- Então eu passo na sua casa e a gente sai, pode ser?
- Pode sim.
- Está certo, até mais!
- Até! Acho que você salvou o meu dia!
- Que nada (risos).

Ele era assim sem rodeios, sem joguinhos, sem indiretas. E mal imaginava a intensidade daquela última verdade que ela havia dito. E ela mal entendia quanta força iria ter as suas palavras.

quarta-feira, 4 de junho de 2014



Eu nunca te entendi direito. E você sempre soube disso. Acho que era toda a confusão que você apresentava em um só. Tinha o "você" que as pessoas falavam que era. Tinha o que você queria mostrar que era. E tinha o que você realmente era. Era tudo muito confuso. E ninguém pode ser culpado por não te entender.

As pessoas acreditam no que querem acreditar. Você sempre dizia isso no meio das conversas. Sempre ria com os burburinhos que se formavam sobre você, sua vida e seus pensamentos. Acho que gostava mesmo era de ser o tema das conversas, sem nem precisar ser o centro. Eu só fazia rir, porque no fundo não sabia em quem ou o quê acreditar de verdade. Não sabia o que eu queria ver.

A gente se divertia, ria e chorava juntos, compartilhava momentos, mas nunca deu para entender o que éramos, e se éramos alguma coisa. Você disse que me apresentava alguém que poucos conheciam e mais uma vez eu não entendia o motivo de se esconder, mesmo quando queria atenção.

Lembra do dia em que você se despediu de mim, porque disse que não queria mais caminhar ao meu lado e não estar no meu coração de verdade? Eu não contestei, porque sabia que não podia oferecer mais que isso. Não dava para entrar nessa confusão de cabeça. Nunca te contei, mas foi triste ver a sua partida, foi triste ver algo tão bonito se desfazendo. Porque você era daquelas pessoas que a gente acredita que vão continuar na nossa vida. No momento não achava que aquilo era realmente necessário, mas no íntimo eu senti que tinha que ser daquele jeito mesmo. Sem mais explicações, sem mais promessas. Apenas um "tchau" e um te vejo algum dia desse.

Na verdade, o que eu mais desejei naquela hora foi que a vida nos fizesse seguir por caminhos diferentes para não existir mais esse "algum dia". E assim, eu disse "amém".