Aquele era um dia estranho para ela, acordara meio nublada, sem cores, não tinha coragem de sair da cama e enfrentar aquela realidade mais uma vez, ainda mais com toda aquela chuva lá fora. Estava difícil aqueles dias, talvez tivesse realmente bons motivos para isso, talvez fosse só aqueles momentos em que ela adorava fazer de conta que era ruim está ali sozinha, quando na verdade gostava daquilo.
Então, daquele jeito sem graça, decidiu colocar a música no aleatório para ver o que iria aparecer, foi quando começou a tocar uma música que nem sabia como foi parar ali. Falava de sonhos, de acreditar. Era uma música sobre amor.
E ela começou a imaginar todos os motivos que poderiam fazer ela acreditar naquelas afirmações. O saldo era positivo, mas as marcas eram doloridas. Continuava pensando, mas algo interrompeu seu pensamento. A música parou e ela voltara subitamente para a realidade do dia. O telefone estava tocando. Era ele, sim ele... Aquele que há dias a fazia pensar na possibilidade de acreditar mais na beleza dos dias. Ela ensaia se a voz está boa. Uma. Duas. Três vezes. E atende em um tom de quem não se surpreendera com a ligação:
- Oi.
- Oii. Está muito ocupada? Se estiver posso ligar outra hora.
- Não, pode falar. Tenho um tempinho agora.
- Tudo bem contigo?
- Humrum, tudo sim.
Naquele momento ela queria saber sobre o que realmente ele queria conversar. Não tinha nenhum motivo aparente. Acabou ficando calada. Ela não fazia questão de manter diálogos rápidos, gostava das pausas. E como quem tivesse ouvido os pensamentos, ele foi logo respondendo.
- Ah, eu sei que não tem nenhum motivo para te ligar. Só queria saber o que você acha da gente se ver hoje... Eu sei que o dia está feio, mas talvez dê para a gente terminar ele de um jeito melhor. Quem sabe a gente não assiste aquele filme que você tanto quer vê?
- Hum... Será mesmo uma boa ideia?
- Você tem alguma coisa programada?
- Na verdade não, não tenho mais nada para fazer.
- Então eu passo na sua casa e a gente sai, pode ser?
- Pode sim.
- Está certo, até mais!
- Até! Acho que você salvou o meu dia!
- Que nada (risos).
Ele era assim sem rodeios, sem joguinhos, sem indiretas. E mal imaginava a intensidade daquela última verdade que ela havia dito. E ela mal entendia quanta força iria ter as suas palavras.