segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

um amor


Parece que com eles tudo começou muito antes de perceberem. Quem olha de longe acredita que foram feitos para se encontrar. De perto também. Eles não têm nada a ver e nem são opostos. São a medida certa de algo que estão sempre buscando. São confusos, complicados e amáveis. Vão vivendo os dias sem muitas promessas e expectativas, mas cheios de sonhos.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

desfocado


Olhava de longe aquela menina que a cada sorriso parecia pedir socorro. Eu tentava chegar perto, mas não conseguia. Ela queria mostrar ao mundo uma felicidade que não existia. E só percebia isso quando chegava em casa, toda noite sozinha.A vida externa era uma festa, mas a solidão era dolorida. A quem tentava realmente enganar? A si mesmo. Queria ser diferente de tudo que queriam que ela fosse, mas acabava sendo previsível e igual. Sempre.

Seus gritos de liberdades eram na verdade pedidos para que alguém chegasse e a tirasse dali. Pensava que ser inconstante e borboleta era algo bom, mas não. Machucava-se ainda mais. Procurava frases feitas achando que assim conseguiria se descrever, mas não. Ficava ainda mais perdida. E assim, seguia uma vida completa de relações superficiais, com uma crença no pra sempre, sem nem existir o próximo ano. Mas não pude ver mais nada, tudo estava muito distante.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

a dor


Uma hora ou outra temos que lidar com ela, nas suas mais diversas nuances. A dor de perder alguém é indescritível. Não é daquelas que você chega no médico e ele te pergunta: - de zero a dez, qual a intensidade da dor? Não doutor, hoje eu não sei responder, vai muito além de tudo que há em mim. No primeiro momento parece que nada é real.

Você programou um ótimo dia de feriado. Filmes, chocolates, ótimas companhias. Seu telefone toca. É impossível não querer atender aquele que insiste tanto. Ah, se eu não atendesse. Ah, se nada disso fosse verdade. Você atende, percebe que tem algo errado, escuta uma voz diferente, sente a dor de quem quer lhe anunciar. Era o único jeito, você tinha que ouvir. Então, escuta. O mundo para. Um loop de imagens atravessa sua mente. Em um segundo tudo que está ao seu redor perde o sentido. Você paralisa. Sem reação. - Não, eu não escutei direito. - Será que era isso mesmo que tinha para me dizer? Você briga com sua mente. Sua dor explode. Seu grito interior em não querer acreditar passa a fazer barulho. Muito. Dói tanto que parece que seu corpo não vai suportar. Tudo em você agora acreditou. Seu corpo sente a perda, sente que tem alguém que você não poderá mais abraçar, sentir o cheiro, conversar. Você entendeu, mas não quer acreditar. A dor então domina.

Você para, pensa, tem que se acalmar. Mas nem os abraços ao redor fazem sentido. Está anestesiada. Todos falam, consolam, diz que passa. Passa o quê? As lembranças? A vontade de ter ali do lado? O som do sorriso? Não, não quero que passe. A verdade é que eu o queria aqui. Somos, sim, egoístas. Somos. Queremos que as pessoas fiquem eternamente ao nosso lado. Mas não dá. Elas precisam seguir. Precisam parar de sentir as dores que esse mundo causou. Precisam ficar em paz. E assim, nós seguimos... Com uma dor, que disseram que passa.   

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Um a um


Ninguém imaginava que era dele que ela tanto falava. Que o motivo dela sair cantarolando por aí era aqueles versos que ele contava durante os dias. Foi ele que deixou os dias mais coloridos, que teimava em clarear a vida e as situações, sempre levando buquês de raio de sol.

Era com ele que sentia segurança. Nas palavras, nas atitudes e nas promessas não ditas. Andava por um caminho mais bonito e seguia com uma paz transbordante. Sentia-se protegida no abraço dele, como se nada de ruim pudesse chegar ali perto. Ele abraçava tão forte que todos os pedaços quebrados começaram a se juntar novamente. Um a um, indo para o seu devido lugar.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O mundo precisa disso


Sempre fico com a impressão de que as pessoas deixam as coisas mais importantes para falar em um momento que achem mais bonito e adequado. Deixam para um depois que não tem certeza que virá. E isso é tão perigoso. As pessoas podem ir embora sem saber o que queríamos dizer, que as queríamos tanto bem. E isso é de uma hora para outra. Quem fica apenas pensa o que poderia ter dito, que poderia ter demonstrado mais, pensa que até poderia gritar aos quatro ventos as verdades que guardou. Depois já não adianta pensar. Infelizmente.

Os elogios são para ser ditos, pessoas precisam saber que são amadas, que alguém gosta do que elas fazem, que são admiradas de alguma forma. Fale alto, fale baixo, meio sem graça, procure alguma forma, mas fale. Se quer dá um telefonema para alguém que não vê há tempos e acha mais coerente deixar para amanhã, esqueça a coerência. O amanhã pode vacilar e quem era já não ser mais. 

O mundo precisa de coisas bonitas espalhadas, precisa de palavras sinceras, de amores (com)partilhados. Agora, se o que quer falar for algo ruim, que apenas será chato e inconveniente, sem nada de construtivo, esqueça tudo que iria falar. Deixa para lá. O mundo não precisa disso.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

#100diasfelizes



Eu sempre me atrapalhava com projetos numerados. Parava no meio do caminho, esquecia, fazia de conta que nem tinha começado. Sempre me convencia que estava ocupada demais. Até um dia que virando as coisas na internet achei a hashtag #100happydays e fiquei curiosa. Quando abri o site sobre o projeto tinha um desafio "Você conseguiria ficar feliz durante 100 dias seguidos? Você não tem tempo para isso, não é?". Desafios e perguntas que respondem perguntando sempre mexem uma coisinha comigo. No mesmo dia comecei os #100diasfelizes, que me inspirou de uma forma única. Eu não conseguia parar de ver que meus dias, por mais desgastantes, corridos e (porque não?) com momentos de tristezas, eu tinha sim algo para olhar e dizer: Isso aqui me deixou feliz!

Para muita gente pode ter sido algo que não fez sentido... Porque é importante postar uma foto todo dia? Ela está limitando os dias felizes? Porque só 100 dias? Ela ainda está nisso? Ah, é legal, mas dá trabalho não é? Essa contagem regressiva é para quê? Está em que dia hoje? Oi, 100 dias felizes! Tinha questionamentos e brincadeiras de todos os tipos. Achava engraçado, ria, falava sobre e achava bom compartilhar meus dias. Eu só queria ser feliz e concluir algo que comecei, algo que me instigou a ser mais feliz, a valorizar mais os pequenos momentos, a buscar ser melhor e fazer os dias dos outros melhores. Sim, quem é feliz quer ser cada vez mais. Pode acreditar! Dei mais "bom dia", admirei mais as paisagens, agradeci mais, procurei novos projetos para participar, quis ficar mais tempo com as pessoas, encontrei mais tempo, me inspirei mais.

E não, meus momentos felizes não se limitaram àquelas fotos. Ali, apenas um registro, um segundo que parei para fotografar. Meus momentos felizes foram mais além. Os encontros, as paisagens, as pessoas, os sorrisos, os agradecimentos, TUDO, fizeram valer a pena o registro. Sorrir, sorrir e sorrir ainda continua sendo uma boa forma de expor esse sentimento de felicidade. Sorrir compartilhado, sozinho, com alguém desconhecido, com quem se ama, de todos os jeitos.

Queria ter registrado muito mais coisas. E sabe uma o que aprendi durante os #100diasfelizes? Não registre tudo, tem aqueles momentos que para ser feliz você precisa viver e não parar. Que a foto com os amigos venha naturalmente depois de muitas risadas, muitas conversas, muitos abraços, nunca pare a melhor parte para tirar uma foto. Que a foto da comida que você gosta venha em um clique, e não fique fazendo vários até achar o melhor ângulo e você não possa aproveitar. Que a foto com seu amor seja uma, duas ou três. Mas que vocês não passem mais tempos preocupados em registrar e esqueçam de viver. Que ao sair para jantar conversem até se cansar, depois, se quiser, registre. Nas viagens não adianta você querer registrar tudo que olhar e parar para admirar só por um minuto, achando que poderá recordar depois quando olhar a foto. Vai recordar o quê? O tempo que passou tirando fotos? Viva o lugar, olhe as minúcias, respire os aromas que têm ao redor, aproveite.

Enfim, viver sempre vai ser melhor. Seja feliz, faça as pessoas felizes, olhe para as particularidades do seu dia e descubra que cada um tem um momento feliz. E mesmo quando achamos que não, dê uma olhadinha melhor. Pessoas felizes não atrapalham a vida de ninguém. E que além de querer ser felizes, querem ver o outro ser também! Então, que sejamos!

E quem quiser saber como começar:
http://www.100happydays.com/pt/
Os meus 100 dias felizes no Instagram: @tuanydutra

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O começo


Aquele era um dia estranho para ela, acordara meio nublada, sem cores, não tinha coragem de sair da cama e enfrentar aquela realidade mais uma vez, ainda mais com toda aquela chuva lá fora. Estava difícil aqueles dias, talvez tivesse realmente bons motivos para isso, talvez fosse só aqueles momentos em que ela adorava fazer de conta que era ruim está ali sozinha, quando na verdade gostava daquilo.

Então, daquele jeito sem graça, decidiu colocar a música no aleatório para ver o que iria aparecer, foi quando começou a tocar uma música que nem sabia como foi parar ali. Falava de sonhos, de acreditar. Era uma música sobre amor.

E ela começou a imaginar todos os motivos que poderiam fazer ela acreditar naquelas afirmações. O saldo era positivo, mas as marcas eram doloridas. Continuava pensando, mas algo interrompeu seu pensamento. A música parou e ela voltara subitamente para a realidade do dia. O telefone estava tocando. Era ele, sim ele... Aquele que há dias a fazia pensar na possibilidade de acreditar mais na beleza dos dias. Ela ensaia se a voz está boa. Uma. Duas. Três vezes. E atende em um tom de quem não se surpreendera com a ligação:

- Oi.
- Oii. Está muito ocupada? Se estiver posso ligar outra hora.
- Não, pode falar. Tenho um tempinho agora.
- Tudo bem contigo?
- Humrum, tudo sim.

Naquele momento ela queria saber sobre o que realmente ele queria conversar. Não tinha nenhum motivo aparente. Acabou ficando calada. Ela não fazia questão de manter diálogos rápidos, gostava das pausas. E como quem tivesse ouvido os pensamentos, ele foi logo respondendo.

- Ah, eu sei que não tem nenhum motivo para te ligar. Só queria saber o que você acha da gente se ver hoje... Eu sei que o dia está feio, mas talvez dê para a gente terminar ele de um jeito melhor. Quem sabe a gente não assiste aquele filme que você tanto quer vê?
- Hum... Será mesmo uma boa ideia?
- Você tem alguma coisa programada?
- Na verdade não, não tenho mais nada para fazer.
- Então eu passo na sua casa e a gente sai, pode ser?
- Pode sim.
- Está certo, até mais!
- Até! Acho que você salvou o meu dia!
- Que nada (risos).

Ele era assim sem rodeios, sem joguinhos, sem indiretas. E mal imaginava a intensidade daquela última verdade que ela havia dito. E ela mal entendia quanta força iria ter as suas palavras.

quarta-feira, 4 de junho de 2014



Eu nunca te entendi direito. E você sempre soube disso. Acho que era toda a confusão que você apresentava em um só. Tinha o "você" que as pessoas falavam que era. Tinha o que você queria mostrar que era. E tinha o que você realmente era. Era tudo muito confuso. E ninguém pode ser culpado por não te entender.

As pessoas acreditam no que querem acreditar. Você sempre dizia isso no meio das conversas. Sempre ria com os burburinhos que se formavam sobre você, sua vida e seus pensamentos. Acho que gostava mesmo era de ser o tema das conversas, sem nem precisar ser o centro. Eu só fazia rir, porque no fundo não sabia em quem ou o quê acreditar de verdade. Não sabia o que eu queria ver.

A gente se divertia, ria e chorava juntos, compartilhava momentos, mas nunca deu para entender o que éramos, e se éramos alguma coisa. Você disse que me apresentava alguém que poucos conheciam e mais uma vez eu não entendia o motivo de se esconder, mesmo quando queria atenção.

Lembra do dia em que você se despediu de mim, porque disse que não queria mais caminhar ao meu lado e não estar no meu coração de verdade? Eu não contestei, porque sabia que não podia oferecer mais que isso. Não dava para entrar nessa confusão de cabeça. Nunca te contei, mas foi triste ver a sua partida, foi triste ver algo tão bonito se desfazendo. Porque você era daquelas pessoas que a gente acredita que vão continuar na nossa vida. No momento não achava que aquilo era realmente necessário, mas no íntimo eu senti que tinha que ser daquele jeito mesmo. Sem mais explicações, sem mais promessas. Apenas um "tchau" e um te vejo algum dia desse.

Na verdade, o que eu mais desejei naquela hora foi que a vida nos fizesse seguir por caminhos diferentes para não existir mais esse "algum dia". E assim, eu disse "amém".

quinta-feira, 29 de maio de 2014


- O sorriso dela é feliz!
- Mas todo sorriso não é feliz?
- Não, tem sorriso que é triste!
- É verdade... E ela ainda sorrir com o corpo todo!

quinta-feira, 6 de março de 2014

enquanto isso...

Uma criança me chamou a atenção. Dentro do balde que usava para por a água que limpava os carros tinha uma bebida alcoólica. De vez em quando ele ia lá e dava um gole. Limpava mais carros, voltava lá e dava um gole. Parecia que aquela era a única maneira que ele tinha de fugir da realidade naquele momento. Assim ele não sentia tanto o desprezo das outras pessoas, o esquecimento, o não poder tanta coisa.

Aquele menino aparentava ter uns doze anos, baixo, desnutrido e com um olhar que parecia não sonhar mais. Passava todo o dia trabalhando na rua. Mesmo cansado, sabia que não podia parar. A noite procurava algum cantinho para se encostar, naquela dia ele achou apenas um lugar embaixo de uma árvore, onde já tinha muita gente, mas ele encaixou seu papelão no meio de todas aquelas pessoas que, muitas vezes, não são vistas como um ser humano. E todas tentavam descansar. Na rua, no frio, sem um ambiente para sonhar.

Naquele dia passava uma outra criança, quase da mesma idade do menino, que curiosa questionava a mãe:

- Mãe, olha aquele menino ali, como ele consegue dormir nesse chão duro e frio?
- Foi o lugar que ele encontrou, ele não tem uma casa, filho.
- E quando chove, para onde ele vai?
 - Ah, não sei... Mas anda logo, que eu ainda vou te comprar o sorvete. Lembra?
A lembrança não pede mais explicações da realidade. Quem conhece a realidade prefere deixá-la passar.

Uns tomam sorvete. Outros dormem na rua.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

... das coisas que insistem




Hoje o dia chegou com saudades. E saudades me prendem, me fazem perder o jeito, o fôlego e a concentração. Ela nunca avisa quando vai chegar.

Fiquei com saudade dos meus cachos, de gostar de unhas pequenas e de não querer me maquiar. Senti saudade do correr pelo sítio em qualquer brincadeira, do doce de leite feito em casa, do abraço largo da avó. Fiquei pensando nos dias livres, nas manhãs assistindo desenhos, nos desenhos coloridos que fazia, e agora eu queria pintar.

Fiquei com saudade dos amigos que o tempo levou e das risadas sem sentido. Senti saudade de espalhar os papéis pela casa, dos recortes e de ficar sem coragem de limpar tudo. Senti saudade das brincadeiras, dos amigos de infância e de conversar com um diário. Senti falta das cartas, dos cartões e de escrever poemas na agenda. Fiquei pensando nos dias em que eu acreditava mais nas pessoas, do choro por besteira, de fazer dancinhas engraçadas.

Fiquei com saudade de ser criança e não me preocupar se os adultos olhavam o que eu estava fazendo. Senti saudade de não precisar ser responsável, de ser cuidada, de sonhar mais. Fiquei pensando no tempo em que eu não percebia, não entendia e não precisava dar uma opinião.

Saudade. Simplesmente.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

...




E por mais que quisessem ter certeza que não, os dois sentiam falta um do outro.

"Quando é que a gente vai se ver?" ele perguntava no meio de uma tarde aparentemente qualquer, mas ela sabia que aquela tarde não era qualquer, e muito menos um lembrete casual. Era a tarde deles. O dia em que separavam para sorrirem juntos, se divertirem no parque e apostar corridas.

Ele adorava o jeito dela ao desafiá-lo. Ela adorava o jeito dele ao se sentir desafiado. Tinham uma ligação que parecia nunca desatar, eles juntos esqueciam o mundo e todos aqueles blablablas. Sentiam liberdade para serem quem queriam, não precisavam se sentirem aceitos pelos padrões. E todo o resto era apenas resto.

Mas em uma das voltas do mundo tudo ficou diferente. Preferiram não encontrar uma explicação. Apenas ficou estranho e esquecido. Isso ainda doía, aquela d-o-r-z-i-n-h-a de estimação, que insistem em manter por perto. E os dois continuavam ali, em lugares extremos do mundo, se perguntando quando iriam se encontrar outra vez.   

"Quando é que a gente vai se ver?". Não precisavam de respostas.