segunda-feira, 17 de novembro de 2014

desfocado


Olhava de longe aquela menina que a cada sorriso parecia pedir socorro. Eu tentava chegar perto, mas não conseguia. Ela queria mostrar ao mundo uma felicidade que não existia. E só percebia isso quando chegava em casa, toda noite sozinha.A vida externa era uma festa, mas a solidão era dolorida. A quem tentava realmente enganar? A si mesmo. Queria ser diferente de tudo que queriam que ela fosse, mas acabava sendo previsível e igual. Sempre.

Seus gritos de liberdades eram na verdade pedidos para que alguém chegasse e a tirasse dali. Pensava que ser inconstante e borboleta era algo bom, mas não. Machucava-se ainda mais. Procurava frases feitas achando que assim conseguiria se descrever, mas não. Ficava ainda mais perdida. E assim, seguia uma vida completa de relações superficiais, com uma crença no pra sempre, sem nem existir o próximo ano. Mas não pude ver mais nada, tudo estava muito distante.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

a dor


Uma hora ou outra temos que lidar com ela, nas suas mais diversas nuances. A dor de perder alguém é indescritível. Não é daquelas que você chega no médico e ele te pergunta: - de zero a dez, qual a intensidade da dor? Não doutor, hoje eu não sei responder, vai muito além de tudo que há em mim. No primeiro momento parece que nada é real.

Você programou um ótimo dia de feriado. Filmes, chocolates, ótimas companhias. Seu telefone toca. É impossível não querer atender aquele que insiste tanto. Ah, se eu não atendesse. Ah, se nada disso fosse verdade. Você atende, percebe que tem algo errado, escuta uma voz diferente, sente a dor de quem quer lhe anunciar. Era o único jeito, você tinha que ouvir. Então, escuta. O mundo para. Um loop de imagens atravessa sua mente. Em um segundo tudo que está ao seu redor perde o sentido. Você paralisa. Sem reação. - Não, eu não escutei direito. - Será que era isso mesmo que tinha para me dizer? Você briga com sua mente. Sua dor explode. Seu grito interior em não querer acreditar passa a fazer barulho. Muito. Dói tanto que parece que seu corpo não vai suportar. Tudo em você agora acreditou. Seu corpo sente a perda, sente que tem alguém que você não poderá mais abraçar, sentir o cheiro, conversar. Você entendeu, mas não quer acreditar. A dor então domina.

Você para, pensa, tem que se acalmar. Mas nem os abraços ao redor fazem sentido. Está anestesiada. Todos falam, consolam, diz que passa. Passa o quê? As lembranças? A vontade de ter ali do lado? O som do sorriso? Não, não quero que passe. A verdade é que eu o queria aqui. Somos, sim, egoístas. Somos. Queremos que as pessoas fiquem eternamente ao nosso lado. Mas não dá. Elas precisam seguir. Precisam parar de sentir as dores que esse mundo causou. Precisam ficar em paz. E assim, nós seguimos... Com uma dor, que disseram que passa.