segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ela...



"Vai no fundo da saudade e me traz, traz esses olhos que eu não esqueço nunca mais"
Penso em Ti - Jorge Vercillo


Ultimamente as saudades chegam e não estão passando. Hoje eu tava me lembrando dela. São vagas as lembranças que eu tenho dos dias de convivência, mas são marcantes, sem sombra de dúvida. Eu era tão pequena.

Da sua voz eu não tenho mais lembrança. O tempo se encarregou de retirar da minha memória, mas no meu coração eu lembro de suas palavras, tão doces e generosas. Eu me lembro dos olhares, sinceros e puros. Seu rosto era suave. Segurar na sua mão me trazia confiança. O seu abraço era traquilizante.

Ela sempre me defendia em qualquer circunstância, sei que as vezes estava até errada mesmo, mas ela sempre se mostrava como alguém que estaria do meu lado, não importasse o que falassem de mim. Lembro das vezes em que ela foi reclamar com a professora por passar tantos exercícios no mesmo dia, porque segundo ela uma criança de 7 anos não conseguiria escrever de 1 a 1000 em um dia só.

Ela quebrava algumas regras pra me fazer feliz. No meu mundo de criança acredita que eram verdadeiros crimes, mas ela sabia que eram coisas inocentes. Como da vez que eu tava internada e só me traziam suco de caju com biscoito salgado, e ela levou escondido guaraná e salgadinho. Ela não gostava quando meus pais reclavam comigo. Ela me comprava livros. Eu ia com ela ao supermercado.

Os passeios ao lado dela eram tão divertidos. Eu a admirava, era querida por todos aonde quer que chegássemos. E sempre esbanjando um sorriso de uma sinceridade inquestionável. Na sua simplicidade ela me ensinou, mesmo que em pouco tempo, um modelo de uma mulher a ser seguido. Ela era forte, guerreira, honesta. Só que não respeitava seus próprios limites e queria carregar o mundo dos outros nas costas. E muitas vezes esquecia dela própria. Quando conversavámos ela fazia planos para o futuro, um futuro que hoje não existe. E ela dizia "Tuany, quando você crescer...". Hoje eu cresci e queria ela perto de mim, para poder compartilhar os momentos que foram prometidos que seriam compartilhados. Queria poder contar minhas vitórias, momentos especiais e dividir angústias. Acho que se orgulharia de mim. Ela sempre dizia que quando ficasse bem velhinha eu iria cuidar dela. Eu queria estar cuidando dela. Eu a amava tanto e nem lembro se um dia cheguei a dizer isso a ela.

É, os planos de Deus eu não questionarei jamais. Algum propósito Ele teve nisso. Só falo de um sentimento que tá guardado dentro de mim, de momentos que eu nunca quero esquecer. No dia em que vieram me contar nem precisaram falar, eu já sabia, já havia entendido.

E quem era ela? A minha avó amada. E eu era a sua netinha querida.

Escrever esse texto me trouxe lembranças que estavam arquivadas por um tempo. Foi bom elas terem voltado. Foi bom lembrar desses dias. Nem eu sabia que buscar esses fatos na minha memória iria doer tanto. Quando amamos pessoas e elas ficam longe por um tempo doi mesmo, mas é um dor de amor. E eu agradeço a Deus por ter desfrutado da companhia dela, mesmo que tenham sido poucos anos, mas foram valiosos.

Um comentário:

  1. Nada apaga..absolutamente nada...o tempo nos faz relembrar ainda mais,principalmente quando o que se tinha era amor....lindo o que você escreveu...parabéns mesmo..

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