sexta-feira, 9 de setembro de 2011



O lugar estava diferente de como tinha sido um dia. “Eu quase não estou reconhecendo isso aqui, será que eu acho os meus conhecidos?”, dizia minha avó. Depois de muito andar encontramos a casa conhecida. A moradora que não reconhecia ela. Mas ao relembrá-la quem a visitava, via-se o brilho nos olhos de quem nem esperava uma visita, e recebia uma grata surpresa. “Que milagre é esse?”.

Para eu seria apenas mais uma conversa entre velhos conhecidos, mas o abraço na chegada era diferente. Era daquele abraço que aperta, aperta tanto que tira um pouco da tristeza. E tira muito da saudade. O ambiente era uma casa humilde, com pequenos toques de algo atual. Mas era aconchegante. Tinha um ar amigável e querido.


A conversa fluía e iam se atualizando sobre os acontecimentos vividos, sentia-se a emoção em cada palavra. Sentia-se a gratidão pela visita. E sentia-se o quanto esperava por aquele momento. “Eu pensava sempre na senhora”, dizia com um sorriso de quem não tinha vergonha de falar aquilo.


As palavras seguiam, e em um determinado momento algo me puxou mais para aquela conversa. Aquela senhora disse “Minha vida está um romance”. Algo me fez parar para pensar o porquê em meio a tanta tristeza, em meio a lágrimas, entre tantas histórias que não dava certo eu tenha ouvido aquilo. Nunca tinha ouvido alguém definir a vida de forma tão singela e bonita. Não sei se aquela senhora sabia a grandeza do significado daquela frase para mim. Achei aquilo tão lindo! E logo em seguida ela disse “Minha vida está tão sofrida comadre, sua comadre sofre demais”. Romance e sofrimento. Acho que compreendi o que ela estava querendo dizer. O amor é assim, cheio de reviravoltas, cheio de momentos que nos machucam, mas mesmo assim insistimos em querer ver a vida como um romance.

E ela completava dizendo entre uma frase e outra sem sentido (pelo menos para mim que não tinha conhecimento das histórias) que a sua vida era uma parte feliz e outra triste. “O álcool acabou com a minha vida”, ela coloca no álcool a culpa do seu filho não ser quem ela criara para que fosse. O filho lhe trazia desgosto com suas atitudes. E essa era a parte triste.

As expressões da velhice eram evidentes. A pele flácida e machucada pelo tempo demonstrava o quanto ela já teria sofrido. Mesmo eu não sabendo sua idade dava para perceber não ter o tanto que demonstrava, ela era de uma lucidez espantosa.

Na saída outro abraço forte para espantar mais um pouco da tristeza – e quem sabe da solidão também. Então ela me disse “Que moça bonita... Benza de Deus, benza de Deus, benza de Deus, pra não botar olhado”. Eu só sabia retribuir com um sorriso. E outro abraço apertado.

E eu que achava que seria só mais um passeio por um lugar que eu não conhecia.


(Alagoa Grande - PB)


6 comentários:

  1. Qualquer coisa que eu falar aqui vai parecer pequena diante desse texto. Amazing!
    Beijo!

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  2. E eu só sei dizer que fico feliz com teu comentário! ^^
    Beijo

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  3. Que texto lindo, Tuany!! Um dos mais lindos que eu já vi...
    Dá pra sentir daqui a emoção desse encontro.. e quão fofinha essa senhora era!
    :***

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  4. Realmente tinha emoção naquele encontro, Rafinha..
    Sabe quando você fica feliz só de estar presenciando alguma cena?! Era eu ali..
    =**

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  5. E essa vontade de chorar ao ler esse texto eh normal? rs [me senti nesse lugar, nesse momento...^^] Pra variar, O texto neh ;)

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  6. E essa felicidade em receber um comentário seu?! rs ^^

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